10 e 11 de novembro são datas para nos lembrarmos da prevenção à surdez e ao zumbido | IMEB

10 e 11 de novembro são datas para nos lembrarmos da prevenção à surdez e ao zumbido

Nesta entrevista, a otorrinolaringologista Dra. Clarice Saba nos informa tudo sobre a surdez e sobre a campanha do Novembro Laranja.

É comum que uma pessoa tenha um problema de audição, mas permaneça sem ter a consciência de que está padecendo desse problema?

Dra. Clarice Saba – Perder a audição nem sempre é perceptível. Às vezes, a pessoa com o problema só percebe que está diminuída sua audição quando outra pessoa lhe informa. Sendo uma perda gradual, vamos deixando de ser alcançados pelos sons e isso não necessariamente é perceptível. Às vezes, só se torna perceptível quando vivemos alguma situação determinada ou quando alguém nos informa, quando nos dizem que não estamos dando retorno sobre algo que nos disseram, por exemplo.

O avanço da idade é uma das causas mais comuns para a perda auditiva, a presbiacusia.

Pode nos informar se a surdez é mais comum como um problema de nascença ou de maneira adquirida?

Dra. Clarice Saba – A percentagem maior é a da perda auditiva adquirida, com a idade ou com comorbidade, ou seja, associada com algumas doenças. Por exemplo, uma simples rolha de cera pode lhe dar uma diminuição da audição. Mas, no entanto, basta removê-la que o paciente já sai do consultório ouvindo normalmente. Otites também podem provocar a perda auditiva, seja ela externa, com o inchaço do conduto, ou, média, porque pode ter um catarro dentro do ouvido, ou algum outro tipo de secreção. É importante lembrar que as otites podem necessitar de tratamento medicamentoso ou, até mesmo, cirúrgico.

Mas existem várias patologias que podem cursar com perda auditiva. Doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, tireoide. A melhor forma de você conservar sua audição é conservando a sua saúde, porque muitos problemas podem afetar a orelha interna, que é a cóclea, onde fica o que chamamos, brincando, de “computadorzinho da orelha”.

Pode falar um pouco sobre os fones de ouvido, sobre o tempo indicado de uso (quantas horas por dia) e volume/potência indicado, para que não se prejudique a audição?

Dra. Clarice Saba – Bom, os fones de ouvido podem ser utilizados, mas com inteligência. Não se deve querer abarcar o som do ambiente aumentando o som do fone de ouvido porque isso lesará a audição. O recomendado é que o fone de ouvido, ou qualquer oferta sonora na orelha, seja usado por não mais do que duas horas por período, ou seja, com intervalos de cinco a dez minutos, pelo menos, entre cada duas horas e, além disso, jamais ultrapassar da metade da potência do aparelho que se está usando. Seguindo essas dicas, previne-se bem.

“Não se deve querer abarcar o som do ambiente aumentando o som do fone de ouvido porque isso lesará a audição.”

A partir de quantos decibéis a exposição a algum tipo de som pode ser prejudicial à audição?

Dra. Clarice Saba – Tomando o caso da surdez ocupacional, o trauma acústico, por exemplo, determinamos 80 decibéis até, no máximo, oito horas. Um grau de segurança para a audição, portanto, seria 80 decibéis. Entretanto, como observa a Organização Mundial da Saúde, o mundo atualmente é muito mais barulhento. E esse é um dos motivos da campanha de prevenção à surdez. Há esquinas em Salvador, por exemplo, em que, se utilizássemos um decibelímetro, este indicaria muito mais do que 80 decibéis. Então, uma pessoa que trabalhe fixada em um lugar, como um ambulante ou uma baiana de acarajé, estaria tão exposta ao barulho e ao risco de perder ou ter diminuída sua audição quanto qualquer pessoa que trabalha em uma indústria com essa mesma quantidade de ruído. A academia, o trio elétrico, a balada, tudo isso pode lesar a audição, tanto de forma abrupta, súbita, quanto de forma progressiva.

A campanha de prevenção à surdez nada mais é do que um esclarecimento à população sobre como poupar e cuidar de sua audição. E, para isso, repito, é necessário cuidar da saúde como um todo. Por exemplo, se precaver contra o colesterol, triglicérides, que deixam o sangue mais viscoso e diminui a oxigenação da cóclea, que já tem uma oferta pequena de oxigenação, o que causaria ou aumentaria uma perda auditiva. Mesmo o açúcar, a insulina, são elementos com os quais se preocupar.

Muitas pessoas têm o hábito de “limpar” os ouvidos com bocais de caneta, grampos de cabelo. Pode falar um pouco sobre o quanto essas práticas são perigosas? O que elas podem ocasionar?

Dra. Clarice Saba – Essa manipulação da orelha externa com objetos é muito perigosa. Primeiro, porque pode causar uma pequena lesão na pele, que pode se complicar como uma inflamação ou uma infecção, o que pode levar a uma otite. Segundo, as células que fabricam a cera, que é uma das proteções do tímpano, ficam na parte externa do conduto e, manipular essa área, pode levar a uma lesão e diminuição da cera. Quanto ao cotonete, além de poder fazer tudo isso que expliquei, ele também empurra a cera para dentro. Então, há uma impressão falsa de que se está limpando a orelha. Esse problema leva à necessidade de procurar um otorrinolaringologista para fazer a limpeza da orelha.

Além disso, o cotonete pode também perfurar o tímpano. A própria pessoa que o manipula, ou alguém que acidentalmente se bata nela, pode levar à perfuração desse tímpano. Eu digo, brincando, aos meus pacientes, que eles só podem limpar a orelha, lá dentro, com o cotovelo. Quem conseguir, pode fazer isso.

Qual a diferença entre prótese auditiva e ouvido biônico (implante coclear)? O segundo é mais eficaz do que o primeiro? Por quê?

Dra. Clarice Saba – O aparelho auditivo, o chamado AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual) é utilizado para suprir a perda auditiva do paciente. Ele amplifica o som para que o paciente possa ouvir melhor. Ou seja, o paciente tem que ter algum nível auditivo, com perda leve, moderada, grave ou, até mesmo severa, para que o aparelho possa amplificá-lo. O implante coclear, por sua vez, é para quem não tem audição nenhuma. É introduzido cirurgicamente na cóclea e leva o som até ela, através de eletrodos. A criança que nasce surda, por exemplo, se beneficia muito com esse implante e, quanto mais precocemente ela for operada, mais facilmente ela aprenderá a falar, visto que aprendemos a falar porque ouvimos, por imitação. Para alguns casos de adultos que perderam a audição totalmente, nem sempre podem fazer o implante coclear, por conta de deformidades ocorridas na cóclea, que dificultam ou mesmo inviabilizam a cirurgia. Uma meningite, por exemplo, pode ser causa dessa inviabilização.

Pode falar um pouco sobre o Novembro Laranja?

Dra. Clarice Saba – Além do 10 de Novembro, Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, no dia 11 de novembro ocorre a campanha de esclarecimento à população sobre o zumbido. O zumbido é o barulho que o paciente ouve na orelha ou na cabeça, sem uma fonte externa sonora e a maior causa de zumbido é a perda auditiva. Alterações de musculatura, de postura, de triglicérides, de açúcar, de gordura, de hormônios da tireoide, também podem levar ao zumbido.

No chamado “Novembro Laranja”, portanto, nos dedicamos a realizar uma campanha de prevenção à surdez e, principalmente, alertamos a população sobre o zumbido, mostrando que eles podem ter a cura desse problema.

Por: Dr. Renato Barra / Categoria: Destaque Notícias

12 de novembro de 2015

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