Genes ligados às células-tronco estão associados à calvície, diz pesquisa
Ao lado das rugas, um dos sinais mais evidentes do envelhecimento é o rareamento gradativo dos fios de cabelo, que também perdem espessura e ficam mais quebradiços. Apesar de avançadas, as pesquisas sobre calvície ainda não conseguiram determinar se o problema está associado a fatores estressantes que se acumulam na estrutura do folículo piloso ao longo do tempo ou se as próprias células-tronco que dão origem ao cabelo começam a perder o vigor com o passar dos anos. A questão, aliás, não envolve só os pelos do corpo, mas toda a medicina regenerativa — a área de estudos que busca encontrar um meio de fazer com que o próprio organismo passe a restaurar as funções de tecidos e órgãos afetados tanto pela velhice quanto por um vasto rol de doenças, do câncer ao Parkinson.
Considerada tão revolucionária quanto foi no passado a descoberta da penicilina, a medicina regenerativa depende da compreensão do processo de envelhecimento sobre as células-tronco, aquelas com capacidade infinita de autorrenovação e que dão origem a todos os órgãos do corpo. Para isso, o cabelo se mostra um modelo ideal: com um ciclo de nascimento e morte bem definido, representa bem o que acontece no organismo como um todo. Em dois estudos publicados na capa da revista Science desta semana, pesquisadores dos Estados Unidos e do Japão lançam luz sobre o envelhecimento e a queda dos fios, contribuindo para a compreensão melhor do processo regenerativo e, de forma secundária, da calvície.
“O principal objetivo de nosso estudo foi compreender como as células-tronco respondem aos sinais biológicos do crescimento e limitam o número de divisões”, esclarece Rui Yi, pesquisador do Departamento de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, e principal autor de um dos artigos. “Se a divisão não é controlada, isso poderia levar à perda das células-tronco, porque elas acabariam se dividindo demais, ou então à produção de tantas células que resultaria em doenças como o câncer”, afirma.
O processo de miniaturização do folículo piloso — quando ele se torna menor e mais fino — tem sido apontado há tempos como um fenômeno-chave da alopécia androgênica, a calvície masculina. “Mas nosso estudo revelou que os folículos dos mamíferos miniaturizam e geralmente desaparecem da pele durante o envelhecimento de ratos e humanos, independentemente de sexo”, revela Matsumura, no artigo. Outro achado interessante dos cientistas foi que, aparentemente, o problema não está na célula-tronco propriamente dita, o que dificultaria qualquer tentativa de reverter o processo de envelhecimento; mas, sim, em mudanças que acontecem no ambiente de divisão dessas estruturas.
“Na alopécia androgênica, as fibras de cabelo ficam mais curtas, mais finas e escasseiam à medida que os cabelos do couro cabeludo são substituídos. Mas, mesmo nos primeiros estágios dessa condição, as células-tronco do folículo piloso parecem normais: o problema é uma falha no processo de ativação dessas células para formar os novos pelos”, afirma Cheng-Ming Chuong, pesquisador de patologia da Universidade da Califórnia em Los Angeles e não participante do estudo. “As células germinativas do cabelo são formadas pela ativação das células-tronco do folículo piloso e migram do bulbo durante a fase catágena do ciclo de vida do pelo, um estágio intermediário entre o crescimento e a morte do fio. Então, as pesquisas sugerem que o problema não está na célula-tronco per se, e sim no ambiente que afeta as células-tronco. Isso indica que, em tese, modificar esse ambiente poderia reverter o processo”, observa.
Efeitos distintos
Outra descoberta que reforça a hipótese de que não é a estrutura da célula, mas fatores externos a ela que estão por trás do rareamento de cabelo foi feita pela equipe de Rui Yi. “Nós descobrimos que, quando as células-tronco do folículo piloso se dividem, elas transitoriamente produzem um fator de transcrição (uma proteína) chamado Foxc1 para limitar o número de divisões celulares e ajudar as células já divididas a retornar ao estágio de repouso. Essa substância é produzida tanto nas células-tronco do cabelo quanto em seu nicho (ambiente em que ficam, ainda em estágio indiferenciado). No nosso estudo, descobrimos que a função do Foxc1 nas células-tronco e no nicho parecem ser diferentes”, conta.
Nas células, a substância ajuda a fazer com que elas voltem à fase de repouso, quando param de se dividir. Já no nicho, a função é manter o fio antigo, evitando que ele caia antes da hora. “Em outras palavras, quando tiramos o gene Foxc1 do nicho, os folículos antigos perdem-se prematuramente e o cabelo se torna mais fino”, diz o pesquisador.
Por: Dr. Renato Barra / Categoria: Destaque Notícias
15 de fevereiro de 2016